Manutenção de florestas pode garantir economia de quase 500 mil reais aos cofres públicos
A Universidade Federal do Paraná (UFPR), em parceria com a empresa que administra o Terminal de Contêineres de Paranaguá (TCP), divulgou os resultados de cinco anos de pesquisa envolvendo o Rio Jacareí, no Litoral do estado. O evento, realizado nesta quarta-feira (02) no Museu de Arqueologia e Etnologia da UFPR, reuniu pesquisadores, Ministério Público do Paraná, Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, representantes portuários, gestores das unidades de conservação da região e equipes das prefeituras de Paranaguá e Morretes.
O superintendente institucional da TCP, Allan Chiang, explica que este é um projeto condicionante do Termo de Compromisso firmado entre TCP e Prefeitura Municipal de Paranaguá. “Nós buscamos fortalecer as ações socioambientais e estimular as pesquisas acadêmicas. O trabalho realizado pela UFPR é um deles, pois traz soluções sustentáveis para problemas locais, o que beneficia não apenas a rede portuária como toda a comunidade. Os deslizamentos são exemplos de como o rio Jacareí e as demais bacias da Serra do Mar podem impactar na vida da comunidade litorânea. Buscamos incentivar a análise dessas mudanças e como a restauração florestal pode evitar este tipo de problema para a sociedade e para a natureza”.
A solicitação da Secretaria de Meio Ambiente da prefeitura de Paranaguá ocorreu após deslizamentos e o rompimento da ponte na BR-277, em março de 2011. O coordenador técnico da UFPR, o geógrafo Marcelo Hung, explica que “em 24h, a bacia recebeu 8,5 vezes mais sedimentos que seriam produzidos em um ano, conforme estudo realizado por Otacílio, que é pesquisador do LAGEAMB, da UFPR. Foi o maior evento de precipitação da área, resultando em mortes e destruição de casas. A pesquisa traz soluções para os deslizamentos, as quais poderão trazer mais segurança à população e economia aos cofres públicos”.
O engenheiro florestal da secretaria, Rodrigo Delonga, explica que além dos deslizamentos, os moradores ficaram sem água tratada. “Em razão dos rompimentos das tubulações de captação de água, houve o desabastecimento para consumo da população. Por causa de toda esta destruição, foi fundamental avaliar as bacias hidrográficas da região para evitar que novos casos como este aconteçam”.
O resultado da pesquisa realizada pelo Laboratório de Geoprocessamento e Estudos Ambientais (LAGEAMB) mostra as vantagens da restauração florestal para a comunidade litorânea. “O trecho estudado no projeto engloba a Floresta de Mata Atlântica, que é semelhante em toda a Serra do Mar. Isto significa que a pesquisa pode dar soluções para outros trechos de deslizamento, como foi o caso que ocorreu em novembro de 2022, na BR-277, e gerou bloqueios e congestionamentos por vários meses”, afirma o geógrafo.
Resultados do projeto
A bacia do rio Jacareí faz parte do Complexo Estuarino de Paranaguá (CEP) e do conjunto da Serra do Mar. Com 40 km² de área total, o rio divide as cidades de Morretes e Paranaguá e está entre os que mais disponibiliza sedimentos ao estuário. A bacia foi o cenário principal da pesquisa, iniciada em 2019 e realizada em três fases. Na primeira, os pesquisadores realizaram vários levantamentos socioeconômicos e das áreas prioritárias à recuperação e conservação ambiental e contaram com o suporte da Envex Engenharia e Consultoria para as medições mensais e monitoramento contínuo na região, que se seguiram até o fim da pesquisa.
A partir da segunda etapa, foram analisados os dados e formulado um modelo matemático para calcular os valores da produção de sedimentos atual e de manutenção. A terceira etapa incluiu um especialista em economia para analisar os resultados e a construção de dois cenários de mudanças na cobertura vegetal e uso da terra: um com crescimento de vegetação e o segundo sem restauração e com a expansão das áreas antrópicas.
Por três anos os pesquisadores compararam estes dois cenários. No primeiro caso, notaram que o crescimento da vegetação ao longo do leito do Rio Jacareí reteve os sedimentos, não permitindo que seguissem até o final. A redução foi de 24% de produção de sedimentos em comparação ao que é lançado hoje. Em contrapartida, o outro cenário apresentou um aumento de 30% no acúmulo de sedimentos, em comparação ao estágio atual.
Para fazer a retirada deste sedimento, os órgãos públicos gastariam o valor aproximado de R$ 500 mil em 40 anos. “Considerando o período necessário para a construção de uma floresta madura, que é de quatro décadas para o bioma Mata Atlântica, nós analisamos os dados coletados e fizemos uma projeção. Comparamos os dois cenários criados, um com a restauração floresta e outro sem, e notamos que o custo para o desassoreamento foi de quase meio milhão de reais a mais do que se houvesse um investimento em restauração da vegetação na região”, explica Hung.
O LAGEAMB destaca que a economia financeira que a preservação da Mata Atlântica oferece é muito maior do que a abordada na pesquisa. Segundo Marcelo Hung, “existem outros serviços ecossistêmicos prestados pelas florestas, que não foram calculados financeiramente na pesquisa, como: a regulação climática, a polinização, o controle da qualidade do ar e da água e o abastecimento público. Consideramos que a economia com a redução no desassoreamento é de apenas 3% a 10% em comparação a todos estes tópicos que citei. Se incluir os outros fatores, o número será ainda maior”.
Próximos passos para a comunidade
De acordo com o engenheiro florestal da Secretaria de Meio Ambiente de Paranaguá, os próximos passos serão de análise dos resultados para uma possível restauração florestal no local. A proposta também replicar os resultados obtidos na pesquisa com outras bacias. Delonga afirma que “o evento de hoje foi fundamental para dialogarmos com outras instituições que podem participar de projetos locais na região, como a restauração do Rio Jacareí ou aplicação de novos estudos sobre as vantagens financeiras da preservação da Serra do Mar para o nosso litoral”.
Delonga explica que outra vantagem da Bacia de Jacareí é que ela está entre dois mananciais e pode ser utilizada para abastecimento das comunidades. “Mas, para isto, é preciso investir nos cuidados para diminuir o assoreamento na região e este estudo servirá como base neste trabalho”, destaca.