A última folha
Há dias venho observando da janela do apartamento uma árvore, um Sombreiro, que fora podada e, passado pouco mais de um mês, está no esplendor das novas folhas, bonitas, lustrosas, verdinhas, viçosas. Em meio a elas, está uma folha velha, marrom alaranjada, pendendo de um dos galhos. Parece estar se segurando ali. Só ela em meio a tanto vicejar.
Ontem a noite choveu bastante, teve forte ventania e eu fui olhar, certo de que a teimosa tinha caído do galho. Mas, não. Ela continua ali. Já são mais de 365 dias e noites, com sol, chuva, ventos, luar, frio, calor.
É a última da velha geração, em meio a nova que resplandece. Junto com as antigas companheiras que se foram, ela fez parte da equipe responsável pela captação de luz e sua conversão em energia química para produção de matéria orgânica, a fotossíntese.
É a última do longo Inverno, pois, chegada a Primavera, surge um novo tempo, novos brotos, novas esperanças.
De onde a velha folha está, é uma altura de 5 ou 6 metros. Se despencar dali, não vai ter rede de segurança, como tem os trapezistas nos circos. Caiu, é o fim.
Não ficará mais para uma fotografia. Ou uma filmagem.
Só tem grama embaixo e logo alguém vai passar por ali e varrer. A folha vai se decompor em uma lata de lixo.
É um triste fim para uma geração de folhas que garantiu uma boa sombra nos dias mais quentes do ano.
Ela é a última das moicanas e é também o seu último tango em Paris (não é Paris, é Itajai). Como no filme, é a última música e, como no afresco de Leonardo da Vinci, a última ceia (no caso a última seiva).