Dia Nacional da Mata Atlântica alerta para a preservação do bioma

Dia Nacional da Mata Atlântica alerta para a preservação do bioma
Mata Atlântica em SC

 (UNIVALI)

No dia 27 de maio foi celebrado o Dia Nacional da Mata Atlântica. A data foi instituída em 1999, através de decreto presidencial, para chamar a atenção para a importância de ações de conservação do bioma, essencial para a manutenção e equilíbrio da vida de uma extensa variedade de espécies da flora e da fauna, assim como do clima e do ciclo da água. Atualmente, mais de 70% da população do Brasil vive na Mata Atlântica e também depende dela para sobreviver.

O bioma está presente em 17 estados do país, no entanto, de acordo com informações do MapBiomas, uma iniciativa multi-institucional que envolve Ongs, universidades e empresas de tecnologia interessadas em contribuir com o mapeamento anual da cobertura e uso da terra no país, restam no Brasil 12,4% da Mata Atlântica original.

O relatório de 2022 do MapBiomas também mostra que, se consideradas as áreas de regeneração de florestas jovens e as matas degradadas, a cobertura florestal fica em 24%. Ainda assim o índice segue abaixo de 30%, que é o limite de sustentabilidade considerado seguro para a garantia da sobrevivência da fauna e flora que compõem o bioma.

O botânico Luís Adriano Funez, que atua no Herbário Barbosa Rodrigues, em Itajaí, acrescenta que se forem consideradas grandes extensões de Mata Atlântica, a partir de 30 hectares, estimativas já apontam que o bioma original esteja reduzido entre 3,5% e 5% do que foi no passado.

“Hoje as áreas mais extensas do país estão concentradas, principalmente, na região da Serra do Mar, situada nos territórios do Paraná e de São Paulo. Em Santa Catarina, as principais áreas seriam o Parque Nacional da Serra do Itajaí, o Parque Estadual da Serra do Tabuleiro e o Parque Nacional de São Joaquim que, embora não tenha um extenso território, possui uma biodiversidade muito rica, com mais de 100 espécies de plantas que só existem naquela região. Todas elas são áreas muito importantes e que precisam ser protegidas”, afirma Funez.

Para a professora e pesquisadora do Laboratório de Estudos dos Ecossistemas Costeiros na Universidade do Vale do Itajaí (Univali), Débora Ortiz Lugli Bernardes, o Brasil vive um processo de perda de Mata Atlântica acelerado. “Estamos perdendo muitas espécies, antes mesmo de ter a chance de identificá-las e estudá-las”, conta.

Lugli realiza estudos na área de manguezais, dunas e restingas. A docente, dos cursos de graduação e pós-graduação da Univali, explica que o território de Santa Catarina é originalmente composto pela Mata Atlântica que, por sua vez, é dividida em vários tipos de vegetação: restinga, manguezal, três diferentes formações florestais e os campos de altitude, cada um com suas características específicas.

“Existe uma razão para estas vegetações estarem em seus ambientes originais. A partir de quando entendemos a importância disso, passamos a ter mais cuidado com estes habitats, evitando sua destruição e a introdução de espécies exóticas, por exemplo, que também desequilibram o ecossistema. Este entendimento só vem através do conhecimento, que é resultante de estudos precursores. É por isso que o desenvolvimento de pesquisas é fundamental para avançarmos na proteção do meio ambiente”, explica.

Impactos do desmatamento

Funez reforça que as agressões à Mata Atlântica trazem consequências a todos os seres vivos que dependem dela, inclusive o próprio ser humano. “O desmatamento contribui para a desregulação climática tornando o ambiente mais sujeito às catástrofes, como deslizamentos de solo, calor excessivo e inundações. São impactos que uma floresta preservada absorveria, mas diante da depredação, as escalas acabam sendo gigantescas”, lamenta.

Outro impacto provocado pela depredação do bioma está relacionado a produção de medicamentos. Há uma infinidade de plantas, originárias da Mata Atlântica, que possuem princípios medicinais ainda inexplorados, segundo Funez.

“Muitas delas são raras e os seus habitats naturais estão restritos e bastante ameaçados. Além disso, há espécies desconhecidas e que precisam ser estudadas para descobrirmos os seus compostos. Isso sem falar nas inúmeras espécies de fungos e animais que, assim como nós, habitam e também dependem do bioma para sobreviver”, destaca o pesquisador.

Herbário abriga 70 mil registros de plantas

O Herbário Barbosa Rodrigues, que recentemente passou a ser mantido pela Fundação Univali em parceria com a Associação Herbário Barbosa Rodrigues, possui registros de cerca de 95% das plantas identificadas em Santa Catarina. O espaço está localizado em Itajaí e completa 81 anos em 2023.

O espaço possui o acervo mais completo da flora catarinense, com cerca de 70 mil registros de plantas, sendo considerado um dos maiores centros de informações referentes à botânica do Brasil.

Atuando como analista neste Herbário, Funez explica que o local é um rico banco de dados sobre todos os tipos de vegetação da Mata Atlântica presentes em Santa Catarina, com registros datados a partir da década de 40 e que incluem informações coletadas em todas as regiões do Estado.

“É graças a este trabalho, iniciado pelo botânico e padre Raulino Reitz, que hoje temos um retrato fiel da flora catarinense, anterior ao desmatamento desenfreado das últimas décadas. Através destes registros, entendemos como era a vegetação onde não há mais resquícios da mata original. É um retrato muito preciso e que pode contribuir com a restauração da mata nativa dessas áreas”, explica.

O Dia Nacional da Mata Atlântica faz alusão a data em que o Padre Anchieta descreveu, na Carta de São Vicente, sobre as florestas tropicais brasileiras e sua diversidade de espécies. O documento, escrito em 27 de maio de 1560, é considerado o primeiro relato histórico sobre o bioma.

O Herbário em Itajaí
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