Durante 49 anos houve um município no Paraná que se chamava Entre-Rios

Hoje é um pacato distrito de Ponta Grossa, com o nome de Guaragi. Mas entre os anos de 1890 a 1939 – portanto, durante 49 anos -, a localidade era um município, o de Entre Rios, nome devido a sua localização entre os rios Tibagi, Guaraúna, Santa Rita e Turvo.

Meu avô Victor Grein foi prefeito ali em 1920. Numa publicação daquele ano, o Album do Paraná, aparece a sua foto, jovem, estampa de galã. Um trecho dizia: “Os principaes homens da localidade, operosos e extremados patriotas, tudo fazem pelo progresso do município, contando à sua frente o actual prefeito, professor Victor Grein, industrial e homem de letras, cujo retrato publicamos como sincera homenagem ao chefe do governo local”.

Muito bom que a homenagem tivesse sido em mídia impressa, porque se, naquela época, houvesse a internet, o celular, ela estaria nas nuvens.

Entre Rios chegou a ter quase 10 mil habitantes, o que, para a época (e mesmo agora muitos dos nossos municípios não chegam nem a metade disso), era muita gente. A mesma publicação de 1920 dizia que a cidade era dotada de poucas ruas, “porém largas e geometricamente alinhadas, tendo a Villa dentro do seu perímetro uma linda praça arborizada”.

Num artigo publicado em 2016, com o nome “Ontem Entre Rios, hoje Guaragi”, Adriana Aparecida Antoniacomi  escrevia: “Nas primeiras décadas do século XX, Entre Rios teve uma vida social movimentada, contando com clubes sociais que promoviam animados saraus, grupos de artes cênicas, banda municipal, espaços de encontros ao final da tarde, como a praça da igreja matriz e seu coreto, tudo registrado na páginas de “O Serrote”, jornal local”.

A iluminação era feita por candeeiros e lanternas abastecidas por querosene, mais tarde, por óleo.

Havia dois templos, a Igreja Matriz de Nossa Senhora da Luz (ainda existente) e o templo protestante. Na Fazenda Guarauna tinha “uma excelente fabrica de excellentes queijos, sendo conhecidos, muito afamados, em todo o Estado”

A erva-mate também gerava movimento e riqueza. Sua cultura ainda estava no auge. Uma publicação do começo do século narrava que havia ali 33 casas comerciais (se escrevia “commerciaes”), 2 açougues, 1 hotel, 3 sapatarias, 3 ferrarias, 1 barbearia, 7 serrarias, 2 moinhos de trigo, 1 fabrica de gasosas e 12 fábricas de farinha de mandioca. Além de 11.000 cabeças de gado vacum, 1.010 cavalares, 30 muares, 150 caprinhos, 1.100 lanigeros e 610 suínos. A produção agrícola era de milho, feijão, mandioca, centeio, batatas. Produção industrial: erva-mate, maderias, farinha, mel, cera, ovos, leite, manteiga, queijos.

O que mais movimentava o município – e toda a região -, porém, eram as indústrias extrativas de madeira. Vários “engenhos de serra” arrasavam com os pinheirais existentes. Os carroções puxados por bois ou cavalos eram usados no transporte da madeira desde o corte, o beneficiamento e o posterior comercio das tábuas e dos cabos de vassoura.O professor e historiador Alfredo Klass, de Palmeira, dizia que “saía de nossa serraria cerca de 12 carros de bois a cada dois dias, carregados de madeira, com destino a estação ferroviária”.

Na estação ferroviária, amontoavam-se as taboas ao relento , a espera de vagões para o tansporte.

O fato é que, quando a madeira desapareceu, o município de Entre Rios também foi minguando, até que, em 1939, já com pouca população, foi extinto, sendo incorporado ao município de Palmeira.

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