Profissionalização faz vinhos do Paraná ganharem destaque nacional

Profissionalização faz vinhos do Paraná ganharem destaque nacional
Foto – DIVULGAÇÃO

(Coordenação de Comunicação Social – Sistema FAEP/SENAR-PR)

A história do vinho no Paraná tem ligação com a imigração. Em geral, o início das vinícolas ocorreu com os avôs e/ ou bisavôs dos atuais proprietários, que vieram de países da Europa trazendo o hábito de ter um parreiral e produzir vinho colonial para o consumo próprio. Nos últimos anos, um movimento de profissionalização tem permitido que os produtores transformem história em negócio. O resultado é que os vinhos e a uva paranaenses têm ganhado destaque nacional.

No fim de 2023, duas vinícolas do Paraná tiveram seus vinhos reconhecidos pelo Prêmio CNA Brasil Artesanal 2023 – Vinhos e Espumantes. Na categoria Vinho Branco, a bebida “Chardonnay – Linha Brocardo”, produzida por Cátia Regina Betiatto, de Francisco Beltrão, foi campeã. Na mesma categoria, o vinho Sapienza Branco 2022, de Campo Largo, da vinícola de Heloise Merolli, figurou em 5º lugar na lista. A produtora obteve ainda o terceiro lugar na categoria Espumante Charmat ou Tradicional, com a bebida “Flair Brut Branco 2018”.

No caso de Cátia, descendente de imigrantes italianos, são quatro gerações na propriedade dedicadas ao vinho. No entanto, há pouco mais de uma década, ela, um irmão e um sobrinho apostaram no aperfeiçoamento do produto, investindo em novas variedades de uva. “A gente sempre teve um parreiral e um porão onde eram elaborados nossos vinhos, até então do tipo colonial. A nossa virada de chave começou a partir de 2010”, relembra a produtora.

Dos 40 hectares da propriedade, quatro são dedicados ao plantio de uva (o restante dividido entre pastagens e lavouras). Com o tempo, o trio passou a produzir vinhos finos, como o que venceu a premiação. Hoje, são cerca de 25 mil litros da bebida por safra, com uma parte das uvas vinda de outros parreirais. “Até aqui, tivemos muito do que veio passando pelas gerações, mas também aperfeiçoando o processo com técnicas novas. Meu sobrinho fez um curso na Embrapa Uva e Vinho, eu fiz estudos de pós-graduação em viticultura. Então, hoje a nossa aposta é na qualidade”, compartilha Cátia.

Vinho da RMC

Em plena Região Metropolitana de Curitiba (RMC), especificamente no município de Campo Largo, Heloise Merolli aposta exclusivamente em variedades viníferas. “Fundei a vinícola em 2006, quando comecei a diversificar e ampliar o parreiral. Nós produzimos leite na propriedade até 2012. Depois disso, fui gradativamente convertendo algumas áreas de produção de leite para o vinho e vendendo o plantel para financiar o investimento no vinhedo e na cantina de elaboração”, relembra.

Heloise sempre gostou de vinhos e resolveu apostar no negócio após o falecimento do marido, em 2003. Hoje, a propriedade de 250 hectares tem oito dedicados às uvas. “Pensei como uma alternativa para a propriedade e, então, fui procurar cursos técnicos. Fiz um curso profissionalizante de sommelier, uma pós-graduação em viticultura e enologia e agora estou terminando o curso para obtenção do diploma do Wine and Spirits, da Inglaterra”, revela.

Atualmente, Heloise produz cerca de 10 mil garrafas de vinho e espumantes por ano. Além disso, sua fazenda, a 27 quilômetros de Curitiba, é um ponto turístico. “A gente converteu a casa da família em um centro de recepção, com um winebar, várias opções de aperitivos, porções, alguns pratos e também serviço de vinhos e espumantes. Fazemos eventos, workshops e minicursos sobre diversos temas relacionados ao vinho. Formatamos até uma a tradicional festa da colheita, no fim de janeiro e começo de fevereiro. Isso permite que as pessoas provem os vinhos e quebrem o preconceito contra vinhos locais”, ressalta a empresária.

De acordo com o Departamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria de Agricultura e Abastecimento (Seab), os parreirais – de mesa e para transformação agroindustrial – estão distribuídos em 3,5 mil hectares no Paraná, que proporcionam a colheita de 50 mil toneladas de uvas por ano. Marialva, conhecida como “Capital da Uva Fina do Paraná”, responde por mais de 10% da produção estadual. O município, inclusive, possui, desde 2017, o selo de Indicação Geográfica (IG), concedido pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (Inpi) à Associação Norte Noroeste Paranaense dos Fruticultores (Anfrut).

Tendências

Segundo o pesquisador da Embrapa Uva e Vinho, sediada em Bento Gonçalves, no Rio Grande do Sul, José Fernando da Silva Protas, o caminho trilhado pelas duas propriedades encontra outros exemplos espalhados pelo Paraná. “Estivemos há pouco tempo percorrendo todas as regiões vitícolas do país, fazendo um cadastro de propriedades. No Paraná, os setores vitícola e vitivinícola, tanto para produtor quanto para processador, têm sido bastante apoiados”, sinaliza Protas.

Uma das iniciativas é o Programa de Revitalização da Viticultura Paranaense (Revitis), criado em 2019 pelo governo do Estado, com participação do Sistema FAEP/SENAR-PR. Desde então, a produção de uvas e seus derivados passa por um estimulo a partir de quatro eixos: incentivo para a produção, reorganização da comercialização, desenvolvimento do turismo e apoio à agroindústria. Outro ponto positivo é a outorga do selo de Indicação Geográfica do Inpi para o vinho do município de Bituruna, fabricado com a uva Casca Dura.

Há ainda outras frentes de ação, como a iniciativa de produtores da região de Campo do Tenente de produzir suco de uva, diversificando a matriz produtiva local. Ou ainda a exploração do turismo rural por parte dos produtores de uva e vinho do Norte do Paraná, especialmente da região de Marialva e Bandeirantes; e da própria Região Metropolitana de Curitiba.

“A cadeia produtiva garante geração de emprego e renda de forma sistematizada e pulverizada. A viticultura na região Sul é tipicamente uma atividade de agricultura familiar, um elemento importante de fixação do produtor no meio rural e capacidade alta de geração de emprego e renda em pequenas áreas. Esses aspectos transcendem um prêmio ou outro, pois representam potencial de melhorias significativas na qualidade de vida das pessoas do campo”, avalia o pesquisador da Embrapa Uva e Vinho.

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